Português.
Língua Estrangeira. Literatura. História. Geografia. Sociologia. Filosofia.
Biologia. Química. Física. Matemática. Redação. O que essas palavras têm em
comum além da classe gramatical? É que todas elas, juntas, compõem uma forma de
provar que você tem conhecimento suficiente para cursar uma universidade.
Claro, para alguns foi tão rápida essa fase, que nem conseguiram pronunciar a
palavra vestibular. Já outros, estão até conjugando o verbo que é um
neologismo, dizendo que ainda são vestibulandos. Bom, eu sei dizer que a partir
de um ponto, você já não vê mais as coisas como elas são socialmente, e sim,
com os olhos de um paranoico que acha que até mesmo a fórmula molecular do café
que você toma pode ser pedida nessa tal prova. Desculpem-me o mau exemplo,
porque infelizmente eu tenho conhecimento de que até os alimentos podem ser
questionados em um vestibular.
Depois que eu conheci a química passei a ter outro olhar para o meu prato do
almoço, para o suco de saquinho sendo preparado, para a aliança dos meus avós.
A biologia não me deixa mais apenas apreciar uma flor, uma fruta, ou até mesmo
elogiar um recém-nascido sem dar uma boa olhada para os pais da criança. A
matemática agora me faz ter alucinações, como se eu pudesse ver triângulos,
prisma, cones, pirâmides em todos os lugares. Talvez não seja uma alucinação,
mas o fato de pensar sobre a área, o volume, as arestas da figura deve sim ser
algo preocupante. Tarefas simples, como ligar a televisão, tomar suco de
canudinho, abrir a porta agora são muito mais científicas do que eu sequer
podia imaginar, ainda mais quando a física começa a nos explicar por que é tão
perigoso quando você anda sem cinto de segurança seja no banco de trás do
carro, ou ao lado do passageiro.
Não posso mais viajar sem pensar em que tipo de relevo estou, o clima do local,
a população e até mesmo o fuso horário me interessa. Ainda mais se a cidade
tiver antecedentes históricos, ai sim é que eu não descanso até saber a ultima vírgula
sobre o bendito lugar. E quando conseguimos fazer a genialidade de irmos para
um lugar onde o mais importante não é o que tem lá, mas sim quem viveu ou
nasceu lá. Já pensaram como deve ser satisfatório dizer: Na minha cidade, viveu
um escritor que é a referência no modernismo de 45! Ou então dizer: Pois soube
que um antepassado meu conheceu o maior escritor do realismo brasileiro!
Ainda mais fascinante do que ler a nossa literatura, é ler a literatura que importamos
independente de ela ser referência em alguma escola literária ou não. Ler
livros, teses, dissertações, descrições e narrações em inglês, alemão, francês,
italiano, russo, japonês ou o idioma que for nos faz respirar mais fundo,
analisar mais detalhadamente. Principalmente, faz com que nos sintamos mais
humanos, mais cidadãos, mais intelectuais, mais alunos.
Faz-nos
questionar a nossa participação na política, na economia, na sociedade, na
vida. Enfim, por mais escabrosa que seja a palavra vestibular para alguns, eu
ainda acho que o verdadeiro vestibular é a vida.
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