Cartas à Professora.
Hoje minha professora de redação pediu que escrevêssemos um texto. Normal, né? Mas ela não nos pediu uma redação. Ela nos pediu tudo MENOS uma redação. E naquele momento senti a liberdade gritando do mais fundo do meu ser.
Escolhi me preparar para cursar medicina, e estou nesse projeto desde 2015. Um projeto que me dá calafrios de ansiedade pelo resultado, e lágrimas sem fim toda a vez que percebo que tenho de estender por mais um ano esse projeto. A essa altura do campeonato, escrever uma redação deveria ser, pelo menos, algo menos doloroso para mim. Mas não é. Ainda sinto uma crítica dentro de mim que me diz que ainda não sei lidar com as ferramentas que tenho.
Já pensei em escrever mais redações e pedir à minha professora de redação para que corrigisse. Mas como ouvir, com a melhor das intenções, as críticas? Como encaixar aquelas observações no meu processo criativo que é escrever, quando tudo que eu menos sinto é a criatividade?
Hoje minha professora de redação pediu que escrevêssemos um texto. Eu senti uma emoção ao pensar que poderia simplesmente escrever. E escrever, e escrever, e escrever. Senti que estavam me devolvendo a liberdade, a cor, o brilho da leitura.
Não sou exímia escritora de redações de vestibular, o que eu deveria ser. Tampouco sou escritora de coisa alguma. Mas quando minha professora me pediu que eu fizesse algo que me dá paz, eu só pude pensar: e sobre o que escreverei?
Aí veio um outro desespero. Aquele desespero dos aflitos, dos depressivos muitas vezes: de não conseguir colocar pra fora o melhor e o pior de nós. De não conseguir despir as máscaras e mostrar a alma. De não conseguir mostrar para nós mesmos a beleza de que nós somos feitos.
Tentei durante o seu curto período de 45 minutos dar vazão a tudo que estava represado dentro de mim, mas minha chama interna era apenas uma faísca fraca. Tudo que consegui até agora foi dar voz a agonia que sinto por não sentir mais a liberdade da escrita.
Hoje minha professora de redação pediu que escrevêssemos um texto. Pensei em cartas. Pensei em lhe escrever cartas.
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